Fes é uma das quatro cidades imperiais de Marrocos, a par com Rabat, Meknes e Marrakech. Apesar de Rabat ser a capital actual de Marrocos, em 1250 era Fes a sua capital. A partir daí assumiu um papel de liderança no universo cultural e científico no mundo islâmico.
Dia 1 em Fes
Chegámos a Fes já era de noite, pelo que pousámos as malas no Riad Malak e saímos apenas para comer qualquer coisa. Deitámo-nos super cedo, devido ao cansaço acumulado do tour que tínhamos feito.
Na verdade ficámos alojados três dias em Fes, mas decidimos fazer um bate-volta a Chefchaouen. Assim sendo, ficámos com dois dias para explorar a cidade. Deixo-vos o nosso roteiro do 1º dia em Fes 🙂
Tomámos então um pequeno-almoço reforçado no Riad para enfrentar o 1º dia em Fes. Apesar de já ter um mapa com o trajecto delineado, de pouco vale dentro da medina. Mais uma vez, as ruas estreitas enchem-se de pessoas, locais e turistas. A medina de Fes tem mais de 1200 anos, actualmente conta com mais de 450 mil habitantes, e é classificada como Património Mundial da UNESCO.
Perdoem-me, mas apesar deste ser o 1º dia em Fes, não posso deixar de comparar com a medina de Marrakech. A Medina de Fes é mais pequena, mas muito mais confusa que a de Marrakech. É bem mais labiríntica, onde perder o rumo não é difícil (foi o que nos aconteceu, claro). Uma outra coisa que notei foi o facto de haver muito menos motas e bicicletas a circular. Os caminhos eram feitos essencialmente por pessoas e burros.
Veja aqui dicas úteis para viajar em Marrocos
A primeira paragem do dia eram as Tanneries Chouara. Depois de alguma dificuldade, lá conseguimos chegar. Tratam-se de curtumes ou tinturarias, que apesar de serem uma actividade económica tipicamente marroquina, dando emprego a muita gente, são também algo muito turístico.
Existem três tinturarias em Fes, mas a de Chouara é a mais conhecida.
É aqui que as peles de vaca, carneiro e cabra chegam do matadouro e são tratadas em diferentes tanques. Lavam as peles e ficam a secar no terraço. Para as cores fixarem melhor, utilizam fezes de pombo, daí o cheiro intenso e tão característico do local.
Depois de limpas, as peles são imersas em tanques com várias cores para serem tingidas. De notar, que os homens trabalham com parte do corpo mergulhada nas tintas. De louvar! Estes, mergulham as peças constantemente nos tanques com as misturas coloridas, passando por vários estágios de lavagem e imersão.
Depois disso, as peles ficam a secar nos telhados e terraços. Um processo e um trabalho nada fáceis, onde os homens ganham a vida arduamente, sem qualquer tipo de protecção, servindo no fundo de atracção turística aos olhos curiosos dos viajantes.
Veja aqui o que fazer em Marrakech em três dias
Para se ter uma perspectiva de cima, e por conseguinte, uma melhor visão, recomendamos subir ao terraço das lojas de produtos de couro. À entrada é-nos oferecido um raminho de hortelã, para irmos cheirando, e assim disfarçar o odor existente no local. Devo confessar que não achei o odor tão forte como descrevem. Não sei se tive sorte ou se fui num dia em que o cheiro não era assim tão intenso… Não sei! Mas achei o cheiro suportável.
Depois de subirmos umas quantas escadinhas apertadas, chegámos ao topo onde nos esperava um “guia” que nos queria explicar todo o processo de tratamento das peles. Educadamente, respondemos que não queríamos.
Assistir a este processo é gratuito, tal como a entrada nas lojas. Se não comprar nada, é de bom tom dar uma gorjeta ao dono da loja. Até porque eles vêm atrás de si até à porta.
Seguimos então o roteiro até à Mesquita Zaouiat sidi Ahmed Tijani. Tal como acontece em Marrakech, é proibida a entrada a não-muçulmanos nas mesquitas, pelo que temos de nos contentar a ver do lado de fora. Algumas têm porteiros, que gentilmente abrem a porta para os turistas verem o seu interior.
Esta mesquita é dedicada aos peregrinos vindos do oeste africano em direcção a Meca, a cidade sagrada para o Islamismo. A mesquita, do século 18, contém a tumba de Ahmed Tijani, fundador de uma das ordens do islã. Nesta mesquita consegui ver apenas um pouco do seu interior, pois estava a entrar gente. As cores dos vitrais da entrada são lindíssimas.
Veja aqui como chegar ao centro de Fes
A próxima paragem foi a Madraça Attarine. Construída em 1325, a Madraça Attarine representa uma antiga escola corânica. As madraças têm um papel bastante importante, intelectual e científico, na cidade de Fes. Infelizmente esta só é aberta ao público fora do horário escolar, pelo que não consegui visitar.
Faça aqui o seu Seguro de Viagem e obtenha 5% de desconto
Depois desta rápida passagem pela Madraça Attarine, já ia com os olhos postos no mapa para o próximo destino, quando oiço umas crianças a cantarolar dentro de um edifício que passava completamente despercebido. Esse local, com uma porta tão pequenina, era uma espécie de escola primária. Nesse momento as crianças estavam sim a decorar o Alcoorão, e não a cantar, como eu pensei. A professora disse-me para entrar e assistir. Foi um momento que me encheu o coração! Escusado será dizer que no final tive de dar uma “recompensa para os meninos”!
Depois deste momento tão especial, seguimos até à Zaouia Moulay Idriss II. Zaouia é um local onde se encontram tumbas. Aqui encontram-se os restos mortais do Santo Moulay Idriss II, fundador e padroeiro da cidade de Fes, pela segunda vez em 810.
É a este local que vão os noivos e noivas pedirem felicidade, os pais pedirem casamento para os filhos solteiros, as mulheres com dificuldade em engravidar, entre outros. No final deixam lá velas ou fazem oferendas em dinheiro.
Mais uma vez, a entrada no local só é permitida a muçulmanos. No entanto, o lugar é tão importante que a tumba possui uma conexão com a rua para que as pessoas possam tocar-lhe sem que necessitem entrar no templo.
Embaralhámo-nos pelos souks até a um dos cartões postais da cidade. Não me perguntem por onde passei, porque às tantas estávamos novamente no mesmo sítio 🤣 Esta Medina é muito confusa, mas no fundo é isso que tem piada! Finalmente lá chegámos ao nosso destino: a Mesquita de Qaraouiyine, a mais grandiosa das mesquitas, com capacidade para até 20 mil pessoas.
Veja aqui como ir do Aeroporto de Fes para o centro
Esta mesquita foi fundada por Fatima al-Fihri, em 859. O seu nome provém do bairro que, na altura, era habitado pelos refugiados vindos de Kairouan (Tunísia).
Não é permitido o acesso ao seu interior para não muçulmanos. Ainda assim é possível espreitar pela grande porta aberta e vislumbrar o pátio em mármore e as paredes em mosaico. Ao centro está uma bela fonte que se enquadra em plenitude com o restante cenário.
Faça aqui o seu Seguro de Viagem e usufrua de 5% de desconto
Ao lado da Mesquita fica a Universidade e a Biblioteca de Qaraouiyine. Esta foi considerada pelo Guiness World of Records a universidade mais velha do Mundo. Possui também uma biblioteca impressionante, fundada no século XIV, e que tem uma grande quantidade de manuscritos e livros raros.
Ironia das ironias: apesar de ter sido fundada por uma mulher, apenas recentemente foram aceites estudantes islâmicos do sexo feminino.
Fizemos uma pequena pausa para almoçar e descansar as pernas. Depois das energias repostas, estávamos prontos para palmilhar mais um pouco! A próxima paragem era a Fonte Nejjarine.
Esta é a mais famosa fonte, entre as muitas, da Medina de Fes. Feita de mosaicos, a fonte encontra-se muito bem conservada e ainda está em funcionamento.
Na mesma praça onde está a fonte, podemos ainda encontrar o Museu de Artes e Ofícios de Madeira de Nejjarine.
Roteiro do 1º dia em Fes:
- Tanneries Chouara
- Mesquita Zaouiat sidi Ahmed Tijani
- Madraça Attarine
- Zaouia Moulay Idriss II
- Mesquita de Qaraouiyine
- Universidade e a Biblioteca de Qaraouiyine
- Fonte Nejjarine
- Museu de Artes e Ofícios de Madeira de Nejjarine
- Souks e explorar a parte de fora da medina
Dia 2 em Fes
O 2º dia em Fes não poderia ter começado da melhor maneira. Depois de um farto pequeno-almoço no Riad, demos início ao nosso roteiro.
A primeira paragem do dia foi na Madraça Bou Inania. A madraça foi construída entre 1351 e 1357 e é considerada um dos melhores exemplos da arquitectura merínida. O nome deve-se ao seu fundador, o sultão merínida Abu Inan Faris.
A Madraça Bou Inania é a única madraça de Fes que tem um minarete, pois além de escola funcionava também como mesquita. O bilhete custa 20 dh. Infelizmente não visitei o interior pois ia apanhar o voo nessa tarde e queria visitar mais coisas e estava com medo de não ter tempo para tudo.
No caminho até à madraça passámos pela zona dos talhos. Bem, vou tentar descrever isto em palavras. Ali, as bancas têm os animais (galinhas, frangos, etc.) presos em gaiolas. Basicamente o freguês escolhe a sua refeição e o animal é ali mesmo degolado. A carne já arranjada está em cima da banca, sem qualquer tipo de refrigeração. Mais à frente vi um homem a vender cabeças de vacas. Foi o suficiente para me deixar sem apetite logo pela manhã! Os gatos, que são imensos, tentam ali a sua sorte.
O próximo destino era um dos cartões-postais da cidade: a Bab Boujeloud. Trata-se de um portão monumental, composto por arcos simétricos e decorados com azulejos em tons azul e branco, o qual assume a entrada principal para a Medina de Fes. Foi construído em 1913 e é apelidado também de “Portão Azul”.
Ao seu redor encontram-se vários hotéis, restaurantes e um multibanco. Aqui, também se concentram os guias oficiais, para quem pretende fazer uma visita guiada pela Medina.
Veja aqui o que fazer em Chefchaouen
Em frente à Bab Boujeloud, andando uns metros para fora da medina, encontramos a Place Boujloud. É uma praça completamente murada com fortificações datadas do século IX e por lá ocorrem feiras de produtos berberes e nómadas. Tive a oportunidade de assistir a essa feira, que se pode comparar à Feira da Ladra, em Lisboa, onde se vende de tudo um pouco.
Seguidamente fomos visitar o Palácio Dar el-Makhzen. O palácio fica um pouco distante da medina, cerca de 1 km e pouco, mas ainda assim decidimos ir a pé. A questão não foi propriamente a distância, mas sim encontrar o palácio. Mesmo com GPS, que nos levava para sítios completamente opostos, andámos mais de uma hora perdidos. A minha sugestão é: se tiverem o tempo contado, apanhem um táxi até lá.
Chegámos então finalmente ao Palácio Real, que é um verdadeiro deleite para os amantes de fotografia. O Palácio Real de Fes foi construído no século XIV e é um dos mais antigos de Marrocos. É também designado de Palácio das Sete Portas, pois possui sete portas lindíssimas de bronze, que caracterizam os sete dias da semana.
Esta é a residência oficial dos monarcas marroquinos, onde se exercem funções sobretudo político-administrativas, pois o Rei geralmente não reside aqui.
Infelizmente, o palácio não está aberto ao público. Assim sendo, basicamente visitamos os principais portões do mesmo. Aqui destacam-se as magníficas portas de bronze, douradas, ricamente decoradas pelos artesãos de Fes. Se é assim por fora, nem imagino como é por dentro!
Veja aqui dicas úteis para viajar em Marrocos
Ali perto ainda podemos visitar o Mellah, o bairro judeu da cidade. O bairro foi fundado depois do século XVI por um sultão, para proteger a comunidade judaica. As casas do Mellah distinguem-se das restantes habitações pelas suas janelas sobre o exterior e as suas varandas de madeira e de ferro forjado. Aqui podemos encontrar todo o tipo de lojas.
Aqui também encontramos a Sinagoga Ibn Danan, do século XVII. Foi fácil encontrá-la e ainda ponderámos entrar, mas era tão pequena e parecia estar em tão mau estado que optámos por não visitar.
Veja aqui como ir do aeroporto para o centro de Fes
Regressámos então à medina, onde almoçámos, explorámos um pouco mais e fizemos as últimas compras. O 2º dia em Fes estava a terminar, uma vez que tínhamos o voo de regresso para Portugal no final da tarde 🙂
Roteiro do 2º dia em Fes:
- Madraça Bou Inania
- Bab Boujeloud
- Place Boujloud
- Palácio Dar el-Makhzen
- Mellah
- Sinagoga Ibn Danan